Conhecendo Van Gogh!
Nesta semana terminei de ler o livro “Vincen Van Gogh: minha história - a vida do pintor contada por ele mesmo”, de Ana Lúcia Correa Darú. Comprei o exemplar depois de visitar a exposição imersiva em um shopping no Rio de Janeiro.
Vincent Van Gogh, ao contrário dos que muito pensam, sofreu muito e não teve sua obra reconhecida enquanto vivo. Dependeu financeiramente do irmão a vida toda, foi privado de sono, teto e alimentação, levando a crises e ataques (em um deles, arrancou a própria orelha).
Em seus últimos anos de vida (na casa dos 30 anos) começou a utilizar as pinceladas grossas e cheias de tinta, na era do impressionismo, criando seus quadros mais famosos: girassóis e noite estrelada. Após sua morte e a de seu irmão, sua cunhada Johanna juntou todas as cartas trocadas entre o marido e Vincent e criou a biografia do autor, enviando para as mais renomadas revistas da época, trazendo a vida, Van Gogh.
O que mais me chama a atenção em tudo isso, é aquela velha história para a maioria dos artistas: a fama só vem depois da morte. E pergunto, como podemos mudar isso hoje? Como podemos apoiar o trabalho do artista que está começando agora?
Lendo a newsletter do @tira.do.papel um dia me deparei com a mensagem, que o famoso do futuro, pode estar começando hoje. Será que já conhecemos essa pessoa? 🤔
Inspirada por esse livro, fiz um photodump de uma viagem minha a amsterdã no museu do artista e criei um reels com suas principais pinturas.
Os tons mais bonitos da arte
Se você me segue no instagram, sabe que essa semana falei muito sobre o artista e sobre esse meu livro (o nome ali em cima). Nesse romance, que é escrito em formato de cartas, o mocinho além de cantor e poeta, também é pintor.
Resolvi trazer o primeiro capítulo aqui na newsletter para vocês conhecerem mais sobre Kaollin e Rick:
Aquele era apenas mais um dia comum para mim, só mais um trabalho na tarde movimentada de São Paulo, no caos e beleza da Avenida Paulista. Era uma tarde como qualquer outra, ou assim eu pensava que fosse. O céu estava gloriosamente azul, o sol brilhando como o astro poderoso que é, as nuvens belas e bonitas formando desenhos magníficos. O universo sabia do nosso encontro, Rick, sabia da nossa história, e naquela tarde sorriu de forma majestosa para nós dois.
Entrei no prédio da gravadora com meus saltos ecoando pelo chão límpido, era ridículo que eu quase conseguia ver meu reflexo no piso. Alguns dias antes eu tinha recebido uma ligação me contratando para ser a figurinista – de emergência, porque a outra tinha tido algum problema – de um clipe musical, de um cantor gringo qualquer em ascensão. Era você, Rick. Eu sequer tinha escutado seu nome, não sabia da sua existência até aquele dia. O dia que tudo mudaria.
A propósito, quando entrei no estúdio de gravação, onde uma parcela do clipe seria gravada, você sequer havia chego. Me pergunto se alguma coisa seria diferente se você já estivesse lá, se fosse eu a chegar atrasada, se brigássemos sobre ser pontuais... mas provavelmente não.
Eu cumprimentei Toni, o dono da gravadora e quem havia me indicado. Seu nome era Antônio e ele odiava isso e eu respeitava. Foi esse cara que uniu nossas vidas, Rick. Por um certo tempo eu o odiei por isso, mas depois tive apenas que agradecer, porque em uma tarde ensolarada de abril ele me entregou meu maior presente.
Quando o elevador do prédio abriu e você passou pelas portas, foi algo quase que divino, faltando apenas uma luz dourada atrás de você e sinos tocando ao fundo. As passadas confiantes, precisas, quase que calculadas. Você vestia uma calça azul marinho justa e uma camisa branca gola V, mostrando alguns dos pelos que saiam do tórax (nada passou despercebido aos meus olhos). As mangas da camisa abraçavam seus bíceps e quando meus olhos saíram de seu corpo e chegaram no rosto, eu suspirei.
O rosto bem desenhado, o maxilar marcado e definido. O nariz grande e reto te dava um ar mais másculo. O cabelo preto e encaracolado, nem cumprido nem curto, tinha o tamanho perfeito aos meus olhos. Sua pele morena, como se vivesse perto da praia com o sol lhe beijando a pele todos os dias. E então eu vi seus olhos.
Castanhos escuros como a noite ou as profundezas do oceano, tão lindos quanto um final de tarde e cheios de mistério e paixão. Você era a perfeição, Rick.
A gente sempre sabe quando está diante de algo grandioso, sabemos quando nossa vida está prestes a mudar. Inexplicavelmente conseguimos sentir isso. E quando nossos olhares se encontraram, eu senti, Rick. Sabia que minha vida nunca mais seria a mesma. Foi como uma eletricidade me percorrendo, dos cabelos aos pés. Um tipo de confirmação silenciosa em meu corpo que tudo seria diferente a partir da nossa primeira troca de olhares. E foi.
Você logo desviou os olhos de mim e continuou conversando com seu amigo – que eu nem tinha notado, meu cérebro só tinha capturado você, te gravado como um filme a ser assistido milhões de vezes e eu sabia que não enjoaria. Você conversava com ele em outra língua, e eu lembro de ter estreitado os olhos para tentar entender. Não era inglês. Não era espanhol. Porque eu conheço essas duas línguas, as falo com fluência.
Chamei Toni e perguntei quem era você, e que raios de idioma tão bonito você falava. Você estava longe o suficiente para que eu não entendesse com clareza todas as suas palavras ou fosse enfeitiçada por sua voz.
“Ele é o cantor, querida. Enrico é italiano”, disse Toni e ainda por cima teve a ousadia de perguntar se eu não tinha feito o dever de casa.
“Você me contratou na emergência, estou te fazendo um favor, homem. Sinto muito não ter tempo de ter pesquisado sobre a vida dele”.
E eu deveria ter pesquisado. Talvez estaria preparada para te encarar sem achar que teria meu coração explodido no peito. Você me causava todos os tipos de sentimentos adversos e intensos, Rick. Naquela tarde eu fielmente acreditei que era por sua presença, mas o problema é que quando fiquei sozinha, os sentimentos não pararam. Eles continuaram lá dentro de mim. Você se instalou em mim sem pedir permissão.
Eu preparei as roupas que você iria vestir, mesmo achando que você já estava perfeito nas roupas em que havia chego. Você sorriu e me agradeceu em inglês quando te entreguei o que deveria usar e expliquei como aquelas peças contrastariam com a luz. Ouvir sua voz foi... Ah Rick, eu nem sei o que foi. Era grave, aconchegante, seu timbre mexia em todas as minhas vibrações. E eu o odiei por isso. Me odiei por isso. Porque eu não era mais adolescente, mas sim uma mulher de vinte e oito anos. Eu era resolvida, tinha minha vida feita e planejada e em menos de trinta minutos você já estava bagunçando todos os meus pensamentos. E isso não foi nem um pouco justo.
Certa vez alguém me disse para não confiar em pessoas que descendiam de línguas latinas, o corpo quente e riso fácil sempre conseguiam enganar os corações. Um doce veneno em forma de paixão. E você Rick, não só falava uma língua descendente do latim, falava a própria encarnação dessa língua morta. Italiano. Era um aviso claro de problemas.
Ouvi dizer também para não confiar em músicos, que eles vêm e vão como ondas na praia. Acalentam corações, e tão rápido quanto chegam, também vão embora, deixando para trás um rastro de corações partidos.
E então você entrou no estúdio de gravação, e eu assisti do outro lado. Você abriu a boca. Você cantou. E meu mundo inteiro parou. Eu duvidava que existisse algo mais bonito que você, até ouvir sua própria voz.
Eu franzi a testa, troquei olhares com Toni e com todos que estavam ali. Porque você era bom, bom demais, Enrico Troisi. Sua voz rouca e grave, melodiosa, conseguia passar todas as emoções que você estava sentindo. Uma voz tão bela, com uma vibração tão boa que era quase palpável. Meu coração já descompassado errou todas as batidas enquanto te observava cantar.
Você era um grande cantor. Tocava seu próprio violão. Tinha a áurea de um astro do rock. Cantava inglês melhor que um estadunidense. Tinha a pele bronzeada como se morasse no Rio de Janeiro, mas falava uma das línguas mais antigas do mundo. Naquele momento Rick, todos os sinais estavam ali, gritando para que eu fosse embora, que diante de mim estava o maior de todos os meus problemas. Lá no fundo da minha mente eu ainda podia ouvir uma voz gritando “não se envolva com latinos e nem com músicos”, e você Rick, era as duas coisas em um só.
Você não só destruía corações, você os arrasava. Toda a intensidade de qualquer paixão pulsava em você. Um libriano ciente de todo seu potencial. Rick, você era a ruína de qualquer pessoa. E com certeza foi a minha. Porque quando você me olhou de dentro daquele estúdio, cantando, o olhar me queimando como se fossem brasas, eu caí. Despenquei. E em menos de uma hora com você eu já me sentia como uma viciada, presa em sua intensidade, me queimando em suas chamas.
Eu era boa em joguinhos, sabia manipular as coisas para ganhar no final. Eu era confiante, sabia exatamente tudo o que tinha que fazer. Já você, tinha inventado esses jogos. Naquele momento não me parecia existir um mundo onde eu ganhasse de você em alguma coisa, porque você já tinha me ganhado de todas as formas possíveis. Você sempre foi competitivo, e não deixaria espaço para revanches.
Você me ganhou no primeiro olhar Rick.
E o resto, bom, foi consequência de tudo isso.