Carta para você que já saiu de casa
Escrito por alguém (eu) que saiu de casa.
Ninguém conta para você como vai ser (os primeiros dias) depois. Pelo menos, eu nunca ouvi ninguém falando disso. Da saudade da casa. Do seu quarto. Da saudade dos pais – mesmo que suas ideias já nem batiam mais e você não via a hora de sair de lá. Mas você saiu. E sair, é uma mudança e tanto. Seja porque decidiu morar sozinho ou se casou. Viagem não conta, porque viajar, é saber que vai voltar. E sair de casa, bom, é saber que você não vai mais dormir lá.
Essa constatação (para quem tinha um lar bom e seguro ((mesmo que não perfeito)) transborda em lágrimas, de uma saudade diferente, de uma aflição que nem é mesmo uma aflição. É só uma vontade de chorar ao perceber que você não vai mais voltar para lá. Que agora você já não é mais só filho, é também alguma coisa a mais. É um pouquinho mais adulto do que era antes.
Eu sempre gostei de mudanças, mas confesso que essa não foi uma das mais fáceis. Não porque o novo está ruim, porque na verdade, está muito bom... mas é porque dentro de mim ainda existe uma menininha que lembra como é brincar de boneca e ter o café da manhã preparado pela mãe. A mulher de hoje gosta do que está vivendo, mas a menina ainda está (e talvez sempre estará) dentro de mim.
Depois de alguns choros tive que pesquisar o que era tudo isso, já que não tinha ouvido falar. Psicólogos afirmam que é como um luto. O luto de sair de casa – a gente fica triste quando perde algo que ama, e é mais ou menos isso o que acontece. É assim que a gente se sente.
Quase dois meses depois e hora ou outra ainda passo por isso. E então eu penso que está tudo bem. Está tudo bem se sentir assim. E sei que a cada dia vai ser mais fácil.
Se você saiu de casa e está chorando, está tudo bem, saiba que não é a única. Isso só significa que aquele lar lhe rendeu boas memórias e bons sentimentos. Não perfeitos, mas bons. Maravilhosos, na verdade. Chore. Pode chorar. A casinha vai estar lá pelo tempo que você precisar, assim como sua família. É normal se sentir assim. Significa que você vive, que está crescendo e amadurecendo – e não é um processo fácil. Mas você vai conseguir. Na verdade, já conseguiu.
11/04/23
Cartas para você que…
O texto acima faz parte de um projeto pessoal chamado “cartas para você que vive”. Um livro repleto de cartas contando momentos da minha vida transmitindo a principal mensagem de que você não está sozinha.
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Não lembro de ter sentido saudade da casa da minha mãe alguma vez, mas os meus desafios foram um pouco diferentes. Acho que sempre fui vítima de uma espécie de visão heróica individual, uma dureza tácita. E a força não foi apagando o sofrimento, mas camuflou as incertezas
Me identifiquei muito com esse luto do sair de casa. Já tem alguns anos que não moro mais com os meus pais, mas às vezes, dá vontade de largar essa vida adulta e voltar a ser a menininha que acorda com o café da manhã pronto, com alguém me dizendo o que é para eu fazer. hahahahaha Acho que mais do que um luto, também é uma passagem, como você bem citou no texto, de filho passamos a ser algo a mais. Descobrir o que é esse algo a mais, como pensar, agir, ser para além das expectativas daquela vida criada para nós, é uma aventura e tanto! Adorei a edição. :)